O que era bom, ficou melhor.

Eis que em um belo dia, lá atrás, em 2007, meu amigo Felipe Parra me mandou uma música. O comentário era “ouve isso, é genial”. Certo. Eu ouvi. Era genial. Era “Either Way”, do Wilco.

E toda vez que eu falo deles, muitos perguntam: Wilquem?

O Wilco é uma banda norte-americana, frequentemente rotulada de “alt(ernative) country”, que lançou seu primeiro disco, “A.M.”, em 1995. Misturando canções, ruídos, jams, baladas e rock’n roll, o resultado sonoro é difícil de definir, mas fácil de qualificar: lindo e original.

Apesar de ter sofrido diversas mudanças em sua formação, o pilar do Wilco sempre esteve lá. Jeff Tweedy é o vocalista, guitarrista e principal compositor. Jeff e o Wilco construíram uma excelente discografia que havia atingido o ápice com “Sky Blue Sky”, de 2007. Eu, sinceramente, achei que seria difícil ouvir algo no mesmo nível.

Até que “Wilco (the Album)” foi oficialmente lançado essa semana, no site da banda. E estão lá praticamente todas as coisas que me fazem gostar do Wilco – e desta vez, melhoradas: as baladas de doer o coração, as canções, os violões, o piano, os timbres impecáveis, o rock’n roll e a (contida) estranheza. E tudo faz sentido. O que já era bom, conseguiu ficor melhor.

Wilco

Wilco

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O sexto.

Desde os anos 60, diz-se por aí que os Beatles não eram um quarteto. George Martin, o cidadão que produziu quase cem por cento do que os “fab-four” gravaram, é considerado por muitos o quinto Beatle, devido à enorme influência que exerceu sobre a obra da maior banda de todos os tempos.

Na história mais recente da música pop temos um caso parecido. Um produtor que moldou o som de uma banda a ponto de ser considerado, nesse caso, seu sexto membro. O produtor é Nigel Godrich. A banda é o Radiohead.

Nigel trabalhou com o Radiohead pela primeira vez nas gravações do álbum “The Bends”, de 1995, produzindo apenas algumas faixas. A partir daí, tornou-se parceiro essencial e inseparável do quinteto de Oxford, e foi responsável por todas as produções da banda desde o aclamado (e genial) “OK Computer”, de 1997, até seu polêmico último lançamento, “In Rainbows”, de 2007. A sonoridade experimental e característica do Radiohead é, em grande parte, culpa do trabalho de Nigel.

Apesar da pouca idade do produtor inglês – ele é mais novo do que todos os membros do Radiohead, por exemplo, com a exceção do guitarrista Johnny Greenwood – sua bagagem causa inveja em muita gente. Basta citar que Sir Paul McCartney gravou um dos melhores álbuns de sua carreira solo também sob a produção dele – que foi indicado por George Martin. Estou falando do “Chaos and Creation in the Backyard”, de 2005.

Nigel também é responsável pelo programa de TV “From the Basement”. O programa é gravado em seu próprio estúdio, que fica num porão, e registra performances intimistas de vários artistas em áudio e vídeo.  A propósito, foi depois de assistir ao “Radiohead: In Rainbows From the Basement” que resolvi escrever este post.

Abaixo, um trecho do programa.

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Os sonhos não envelhecem.

Acabo de ler o livro do Márcio Borges, “Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”.

É um relato minucioso e comovente da descoberta da música e dos sentimentos, fatos vividos por um grupo de amigos desde a metade dos anos 60 em Belo Horizonte.

O Clube da Esquina não era exatamente um clube, como é sabido. Era apenas uma locação; a esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, na capital mineira. Lá se encontravam Bituca (ou Milton Nascimento), Lô Borges, Márcio Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Naná Vasconçelos, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e todos os nomes já conhecidos que fizeram parte daquele movimento de músicos e poetas.

Márcio Borges conseguiu mostrar o lado de dentro da criação de uma das obras mais originais da música popular brasileira. Relata o nascimento de muitas das músicas conhecidas por nós. E demonstra a musicalidade que tanto me surpreende quando vou àquelas terras.

Ah, Minas. Sempre Minas.

O que mais me deixou feliz foi quando li o nome de Fredera, guitarrista carioca que mora há muitos anos em MG, e que eu tive a oportunidade de conhecer em Alfenas. Fredera fez parte do “Som Imaginário”, banda que acompanhou Milton por muito tempo.

Minas Gerais não tem praia, mas quem se importa?

Milton Nascimento e Lô Borges

Milton Nascimento e Lô Borges.

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O homem que não entendeu o Free, mas entendeu o Boss.

Não sei se alguém ainda lembra de um post que eu escrevi há um tempo atrás, entitulado “O homem que não entendeu o Free”.

Na ocasião, eu critiquei o produtor/engenheiro de som Bob Clearmountain, pelo trabalho de mixagem que ele fez para o disco “All Right Now: The Best of Free”.

Pois hoje estou aqui para escrever sobre o mesmo Bob, só que desta vez, vou elogiá-lo. E para isso, preciso falar do Boss.

Bruce “The Boss” Springsteen foi acompanhado durante muitos anos pela E-Street Band, que era composta por excelentes músicos, todos muito experientes. Porém, em 1989, desmontou a banda e cada músico seguiu seu caminho.

Em 1995, o Boss, em conjunto com sua gravadora, Columbia Records, começou a trabalhar no projeto de sua primeira coletânea, Greatest Hits. O álbum reunia os maiores sucessos de sua carreira, incluindo a vencedora do Oscar “Streets of Philadelphia”, trilha sonora do filme “Philadelphia”, do diretor Jonathan Demme.

Mas o Boss não estava totalmente satisfeito com o repertório da compilação, então resolveu gravar também material inédito para o álbum. E mais do que isso, ele resolveu reunir a E-Street Band para este trabalho.

O processo de gravação das canções inéditas para o Greatest Hits foi documentado no vídeo “Blood Brothers”, dirigido por Ernie Fritz. Este documentário está disponível em DVD e é obrigatório para os fãs do Boss.

E eu falei isso tudo para dizer que o responsável pela mixagem do álbum foi Bob Clearmountain. E desta vez ele acertou em cheio. Até porque, as músicas do Boss são naturalmente mais pop do que as do Free. O resultado deste trabalho pode ser conferido nas canções “Secret Garden”, “Murder Incorporated”, “Blood Brothers” e “This Hard Land”, as inéditas presentes na coletânea.

Minha predileta é “Secret Garden”.

Portanto, Bob, você está perdoado.

Boss escrevendo durante a filmagem de \

O Boss, escrevendo durante a filmagem de “Blood Brothers”.

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Old man.

Os dois leitores desse blog que me desculpem pela insistência no assunto, mas o velho Nélio me surpreende cada vez mais.

Depois de assistir ao “Heart of Gold” umas vinte vezes e acreditar que Neil Young tinha atingido a sabedoria máxima, o mestre lança “Chrome Dreams II” e me derruba da cadeira. Eu sei, eu tô atrasado, já que o álbum foi lançado em outubro de 2007.

Em 1977, Neil havia gravado o álbum “Chrome Dreams”, que não chegou a ser lançado. O álbum continha somente músicas inéditas, que acabaram sendo diluídas entre seus lançamentos posteriores. Já para o “Chrome Dreams II”, o contrário foi feito, e o músico canadense reuniu sobras de estúdio esquecidas há anos e material inédito escrito especialmente para este trabalho.

Não bastasse isso, aos 62 anos, Neil Young continua fazendo turnês ao redor do mundo. E graças à esse fato, ontem me deparei com um bootleg de um show muito recente dele em Londres. Em pouco mais de vinte músicas, o velho Nélio mostra toda sua genialidade, começando com um set acústico, sozinho no palco, e depois tocando o rock’n roll que só ele sabe fazer.

Como um bom whisky, Neil Young fica melhor a cada ano.

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Entrevista.

Há duas semanas, fiz um show com o Black Crovers no Paddy’s Pub, em São Paulo. Lá, tive a oportunidade de conhecer o Roberto Terremoto, blueseiro e blogueiro conhecido na capital. No final do show, ele veio falar comigo, elogiou a banda, e disse que queria me entrevistar para o blog dele.

A entrevista foi ao ar hoje, e para quem tiver interesse é só acessar o link: Terremoto Blues Blog.

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Warpaint.

Como todos os fãs do Black Crowes, eu passei o último mês esperando pelo dia de amanhã. O dia em que será lançado o Warpaint, primeiro álbum inédito desde o Lions, de 2001.

Ao longo da carreira, a banda sofreu várias mudanças na formação, mas mantendo sempre a mesma base. A mudança mais crítica aconteceu duas vezes: a saída do guitarrista Marc Ford.

Primeiro em 1997, quando foi para uma clínica de reabilitação. Em seu lugar, entrou Audley Freed. Excelente guitarrista, mas nunca conseguiu “entrar” na banda. Rich Robinson tomou as rédeas da ala guitarrística, e Freed simplesmente preenchia espaços.

Quando o Black Crowes anunciou uma nova turnê para 2005, veio junto a notícia de que Ford tinha voltado para a banda. Foi uma longa turnê, que foi registrada no DVD “Freak’n Roll… Into The Fog – The Black Crowes All Join Hands”. Obrigatório.

Mas ao final dessa turnê, a banda sofreu duas baixas de peso: o próprio Marc Ford deixou a banda mais uma vez, junto com Eddie Harsh, o tecladista.

E foi por isso que fiquei ansioso e curioso quando li o anúncio do Warpaint para março desse ano. Quem seria o novo guitarrista? E o novo tecladista? Qual seria a influência de cada um no som da banda? Eu sou fã descarado e chato do Marc Ford, e a atuação dele ao vivo na banda sempre fez falta quando ele esteve fora.

No fim do ano passado, foi divulgado o nome do substituto: Luther Dickinson, guitarrista e líder do North Mississippi Allstars. Eu não conhecia o som deles, então fui pesquisar. E depois de ouvir dois discos (“Electric Blue Watermelon”, de 2005, e “Hernando”, de 2008), fiquei mais tranquilo. Mas fiquei especialmente feliz quando ouvi os trechos das músicas do Warpaint no site oficial do Black Crowes. Luther Dickinson encontrou seu espaço na banda sem ficar na sombra do Marc Ford.

Eu pensei que eu nunca fosse dizer isso na minha vida, mas eu nem senti falta dele, apesar de continuar sendo seu fã.

Agora é esperar pra colocar as mãos no Warpaint e, depois, ver como será a química da banda nos palcos.

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Há 65 anos atrás…

Vinte e cinco de fevereiro de mil novecentos e quarenta e três, Liverpool, Inglaterra. O casal Louise e Harold Harrison é abençoado com um filho, que ganhou o nome de George.

George Harrison faria 65 anos anteontem. Há um tempo atrás, em outro blog, eu publiquei um texto que escrevi em homenagem a ele. Vou publicá-lo novamente aqui, para que fique registrada minha lembrança da data do aniversário de um dos caras que fez diferença na minha vida.

Sobre a genialidade de George Harrison.

Um gênio é uma pessoa que nasce com um talento natural para realizar determinada tarefa. Um gênio é um ser extremamente criativo e original. Musicalmente falando, genial é aquele que consegue traduzir seus sentimentos em música, porém trazendo novas abordagens e idéias que acabam inspirando todas as obras posteriores.

George Harrison foi um gênio da música.
Certamente o mais tímido Beatle, George provou que não era apenas um guitarrista ao escrever canções como “Here Comes the Sun”, “If I Needed Someone”, “Taxman”, “While My Guitar Gently Weeps”, dentre várias outras. Apesar disso, ele era sim um exímio guitarrista. O solo de guitarra em “Something”, outra de suas composições, é uma das coisas mais emocionantes que alguém já conseguiu tocar numa guitarra (mas esta música demonstra que George não era o único gênio da banda). Aliás, esta música foi considerada por Frank Sinatra como a mais bela canção de amor de todos os tempos!

George também lançou diversos discos em sua carreira solo, iniciada quando, em 10 de abril de 1970, os Beatles anunciaram que o sonho estava chegando ao fim. Em novembro do mesmo ano, George lançou o aclamado (e maravilhoso) “All Things Must Pass”, cuja audição é obrigatória para os fãs da boa música.

Portanto, na próxima vez em que você ouvir alguma música dos Beatles ou da carreira solo de George Harrison, ouça com reverência, pois é parte da obra de um gênio.

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Contando histórias.

Há algum tempo que quero escrever sobre o Bruce Springsteen. Já ensaiei isso algumas vezes, mas ainda não tinha tido coragem. Não sei por que. Não faz tanto tempo assim que descobri a música dele, então eu ficava pensando que talvez eu precisasse entender melhor a mensagem por trás do que ele canta.

Eis que, num domingo à noite, pego o recém-chegado DVD “Bruce Springsteen VH1 Storytellers” e começo a assistir. The Boss toca “Devils & Dust”, começa a contar a história da música e explica a letra verso a verso. E eu soube que eu o conhecia melhor do que eu pensava. Pronto. Encontrei o que faltava para escrever.

Algumas coisas sempre me atraíram muito no formato do Storytellers: as histórias, naturalmente, e a informalidade com que elas são contadas. Além do fato de as músicas serem tocadas em versões acústicas, o que as aproxima da forma como elas provavelmente foram compostas.

Mas há algo de especial aqui. Bruce se entrega totalmente às canções que ele já tocou muitas e muitas vezes. Há um clima de verdade muito claro nas suas palavras, e nos acordes que soam do violão. E do piano, que é usado em “Jesus Was an Only Son” e “Thunder Road”, a última música, cantada por ele com lágrimas nos olhos.

“Eu estava pensando em tudo isso quando escrevi essa música?
Não.
Eu estava sentindo tudo isso quando escrevi essa música?
Sim, tudo isso.”

Essas foram as palavras do Boss ao final de “Devils & Dust” e “Thunder Road”. E são o motivo pelo qual eu, finalmente, resolvi escrever sobre ele.

boss_storytellers

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Sou do mundo, sou Minas Gerais.

Eu costumo dizer que sou quase mineiro. Nenhum motivo especial, exceto o gosto por queijos e o fato de eu ter nascido “pertim” da divisa de São Paulo com Minas Gerais, mais precisamente em Vargem Grande do Sul. Mas às vezes eu gostaria de ter nascido mineiro mesmo. Porque sempre que estou em Minas, encontro pessoas com uma musicalidade inexplicável e verdadeira. É algo que não se ensina, não se aprende e não se esquece. Faz parte da alma.

Este texto tem o único propósito de agradecer aos meus amigos da família Fiorini – Donda, Celso, James e Ricardo – por tudo o que aprendi direta ou indiretamente com eles. São exemplos da musicalidade que me encanta.

Conheci o James em Vargem mesmo, há alguns anos. De cara, a paixão pelos Beatles e pela música foi suficiente pra que nos tornássemos grandes amigos. E conheci o resto da família quando fui pela primeira vez à Alfenas. Nunca vou me esquecer de quando ouvi o Donda tocando e cantando “If I Fell” dos Beatles. Donda sabe tudo.

De lá pra cá, já tocamos juntos várias vezes – eu, James e Ricardo – e sempre foi muito bom e, principalmente, divertido. Acredito que nunca chegamos a ensaiar juntos, mas não foi preciso.

Infelizmente, não nos reunimos muitas vezes no ano. Normalmente, duas ou três vezes. Mas é o suficiente pra renovar a inspiração e continuar buscando a verdadeira música.
Pôr-do-sol em Paraguaçu, MG (foto: James Fiorini)
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